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QORPO, FORA

Massapê, São Paulo/BR

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Alberto Oliveira

Artur Ferreira

Bianca Madruga​

Bruno Felipe​

Clara Machado

João Livra

Leticia Tandeta Tartarotti

Mano Penalva

Marina Borges

Olivia Ferreira

Pontogor

Sara Ramo

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Organização:
A MESA

Créditos:

Estúdio em Obra

O corpo — questão elementar e inesgotável na arte e na filosofia —, longe de se reduzir a uma presença fixa ou a um elemento passivo de interpretação, é sempre um deslocamento que nos convoca à exterioridade. Pois ele é aquilo que se oferece ao olhar, mas que, no mesmo instante em que é apreendido, nos escapa o sentido. Essa concepção torna-se evidente, sobretudo, nas tentativas históricas de capturá-lo — ao menos desde o antigo sudário de Turim, que pretende fixar o corpo perdido, o corpo ausente, revelando menos sua substância do que o rastro de seu desaparecimento.

Se por séculos o pensamento ocidental e suas formas de representação buscaram reestabelecer a presença de um corpo ausente como objeto da totalidade de seu sentido e significado, essa busca revelou-se inefável – pois o corpo nunca está plenamente ali, mas sempre em fuga, alhures, elusivo, em movimento contínuo para além de sua redução a qualquer essência ou tentativa de apreensão. A questão que nos resta é, portanto, pensar o corpo para além de um recipiente com sentido unívoco, mas observar que seus apelos, desde a crise moderna, têm revelado um território de crise e estranhamento ao contornar lógica figurativa representacional e se tornar um sinal de desordem — expondo a precariedade de toda tentativa de fixação num enlace comum da representação.

A questão do corpo elabora, em conjunto com os trabalhos, uma espécie de deslocamento nobre da matéria. A proposta expositiva não busca representações fixas, mas as desestabiliza a partir de tensões estéticas cujo apelo é sempre da ordem de uma estranha presença, perturbando as noções unívocas de identidade e representação na medida em que corporifique debates em torno do corpo, mas também amplie seus limites.

 

Deste modo, ao encontrarmos o primeiro grupo de trabalhos que ocupam a galeria verde estamos diante de uma espécie de aquecimento, de maneira com que o corpo se revele nas tensões presentes entre a alegoria e a busca por sua figurabilidade emancipatória. As relações tão presentes na antiguidade entre corpo e objeto se dissolvem na fronteira de suas indistinções, de modo com que a visão que posiciona um sujeito ativo sobre um objeto passivo mostre-se não apenas obsoleta, mas incongruente com os debates da contemporaneidade – diante da possibilidade de se pensar os objetos como entes que participam da elaboração do mundo e de suas relações.

 

O segundo conjunto de trabalhos, que ocupa a última galeria do Massapê, traz ao espaço condições e fenômenos relativos ao corpo – como se o espaço expositivo pudesse respirar ou tivesse batimentos cardíacos próprios, descompassados em relação à maneira como condicionamos a experiência do binômio corpo/espaço. O deslocamento da matéria de seu lugar dito apropriado produz uma estranheza peculiar, marcada pela intencionalidade inerente da matéria de criar narrativas próprias ao elevar sua condição mundana ao acabamento em obra. Quando não comunicam em silêncio, mugem, trincam, dilaceram-se ou dispersam sua inquietude para além dos limites, lembrando-nos que estar fora revela mais sobre o que há dentro.

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